A internet das coisas e o dilema ético da propriedade privada

Imagine que você estar no imaginário ano de 2040. Você acabou de chegar do trabalho e sua casa automaticamente abriu o portão da garagem e regulou a temperatura ambiente de acordo com as informações captadas pelo seu relógio de pulso. As luzes mecanicamente regularam-se de acordo com o seu humor do momento, ficando com um tom mais amarelado em dias de maior stress. 

Você vai ao banheiro tomar um banho e enquanto isso a sua cafeteira, treinada a partir de uma inteligência artificial que aprendeu que você costuma beber café quente ao sair do banho, começou a preparar um elixir negro pra você. O seu sistema de som, ao perceber que ligou o chuveiro, começou subitamente a tocar a música Hora do Banho da Xuxa


O cenário acima é típico de filmes de ficção científica que retratam a vida cotidiana de alguém comum nas próximas décadas. Mas, trata-se de um panorama já viável nos dias de hoje com a tecnologia e conectividade dos equipamentos eletrônicos que dispomos. A internet da coisas ou (IoT) é algo inevitável que virá para tornar as nossas vidas cotidianas muito mais conectadas - mais do que já são atualmente. 

Os primeiros passos da internet das coisas que conseguimos palpar mais facilmente são os smartwatch, que são relógios como qualquer outro mas com vários sensores e indicativos que podem desde obter informações sobre os batimentos cardíacos até informar ao seu médico como o seu coração anda se comportando.

A internet das coisas resumidamente falando, fará com que equipamentos eletrônicos hoje burros e solitários, possam conversar entre si e trocar informações pela internet. Não nos resta dúvidas que isso será muito benéfico para todos, mas um ponto interessante dessa questão diz respeito ao direito de propriedade privada.


Se você já assistiu a Mr. Robot alguma vez, certamente deve ter se lembrado da cena icônica acima. A mulher chega em casa e percebe que o sistema inteligente que controla toda a casa entrou em pane. Ela então liga para a empresa responsável pelo sistema de controle e tenta resolver o problema, mas não tem sucesso. Essa cena retrata muito bem um futuro não muito distante em que todas as propriedades dependem de terceiros para funcionar.

Indubitavelmente as coisas dependem de terceiros para existirem. Certamente a roupa que você veste neste momento envolveu a participação de uma camada de produção densa. O perigo por trás da internet das coisas é que TUDO - ou muito do que você terá - dependerá de outros para funcionar.

Já existe por aí alguns relatos de indivíduos que tiveram problemas sérios ao depender de empresas para que suas casas funcionem. Mas o real problema disso tudo, eu diria, está no fato do poder que empresas - como por exemplo essas de controle de residência - têm em suas mãos. Isso pode ficar mais claro pra você com notícias desde tipo, onde pessoas ficam impedidas de entrarem dentro da sua própria casa.

A notícia acima fala de um cara que fez uma avaliação negativa de um serviço de portão no site da Amazon. O resultado foi que a empresa resolveu cortar o acesso ao servidor do tal cliente. O resultado já é previsível. O caboco ficou sem entrar dentro de casa.

Até o momento que esse controle ficar nas mãos de empresas, que indivíduos podem OPTAR por aderir, o cenário não é tão assustador assim. Agora imagine um futuro onde o governo tem total controle do que ocorre dentro da sua casa. Pra quem conhece o enredo do clássico 1984, a hipótese nem parece tão utópica assim.